quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O silêncio do Sacrário




No sacrário, silencioso, pobre e humilde, está o Senhor. Por isso, o Santo Cura d’Ars afirmava: «O silêncio do Sacrário assusta-me».



E é mesmo para nos deixar perplexos, estupefactos, surpresos. Ficarmos abismados perante tal presença. Está ali o Messias, Senhor o Rei dos Reis, o Bom Samaritano e o Bom Pastor. Está ali, naquele Pão Sagrado, o Rei do Céu e da Terra, o Verbo do Pai e do Filho de Maria de Nazaré. Aquele Pão do Céu é Jesus é uma Pessoa, é o Amigo Divino, é Aquele que tudo sabe e tudo pode. Jesus Eucaristia, Rei e Senhor, no silêncio omnipotente do Sacrário é uma contínua surpresa, é um convite contínuo à nossa presença, à nossa oração, à nossa amizade orante. Mas «assusta» não O ver, não O ouvir, não O sentir.

Silencioso, feito o pobre mais pobrezinho, ali está na mais profunda e eloquente humildade, «escondido» naquele pedaço de pão consagrado. Jesus Eucaristia não é uma coisa sagrada, é uma Pessoa, é o Menino do presépio, o carpinteiro de Nazaré, o Jesus da Cruz o Senhor Ressuscitado, o Rei da Gloria. Está ali, por detrás da porta de milhões de Sacrários espalhados pelo mundo.

Mas…ó poeira, ó nuvem de poeira que nos impedes de O contemplar, de reconhecer que é Ele, de aceitar pela fé que Ele está ali! E a poeira, o nevoeiro parece que nos quer afastar do Sacrário. De facto não vamos lá muitas vezes e com tempo, adorar, louvar, contemplar, reparar, interceder. Ele está, mas não estamos presentes a Ele. Porquê? Falta de fé na sua presença? Falta de tempo? Falta de amor? Todos os santos e santas, mesmos os mais contemporâneos como Teresa de Calcutá ou o Papa João Paulo II, são sempre pessoas de Sacrário, de presença amiga a Jesus Eucaristia.

Sabem gastar tempo com Ele, não querem deixá-Lo só. Sabem que está ali o Senhor, o Mestre, o Rei, o Salvador. Vão adorar, fazer companhia, dialogar. Ficam lá horas seguidas. Parecem não querer arredar pé do pé de Jesus Eucaristia. Longas horas de oração, grandes vigílias. Parece que nunca cessa a adoração, a reparação, a intercessão pelo mundo. Parece que gostam daquela companhia, que o Sacrário tem íman que os atrai, seduz, convida. Têm sede de estar com a fonte da água viva.

Que insondável mistério!!! A heresia da acção, a azáfama desenfreada do dia-a-dia não nos deixa tempo para estar junto do Sacrário. Até parece que não acreditamos que Ele esteja lá. E se calhar não acreditamos mesmo, até ao mais profundo do nosso ser. Se acreditássemos, a vida mudava e íamos lá mais vezes, estávamos mais tempo, levávamos lá o pensamento e o coração. Talvez façamos uma visita à pressa, uma genuflexão mal ajeitada, mas não ficamos, com serenidade, com tempo e com amor. A nuvem de poeira parece impedir-nos de ter fé nesta presença eucarística, de ajoelhar diante do Sacrário, de ter tempos de adoração comunitária diante de Jesus, exposto em custódia. Assim como o denso nevoeiro nos impede de contemplar uma paisagem bonita ou uma obra de arte, assim nos impede de «ver» Jesus e de estar com Ele, na sua misteriosa mas real presença em Sacrário. Parece que andamos enganados, alienados, descentrados. Temos a graça de estar com Ele e não aproveitamos, a graça de estar com o nosso tesouro, com a pérola preciosa da nossa vida e não aproveitamos. Temos ali, no Sacrário, o Jesus Amigo, e não temos paixão para nos encontramos com Ele e viver em íntima comunhão. A nuvem de poeira vai fazendo os seus estragos. Que pena!!! Falta-nos fé viva e amor ardente. Falta-nos fogo no coração, amizade sincera, presença amiga. Precisamos de ser cristãos e cristãs, consagrados e sacerdotes, de vida em Sacrário. Maravilhoso desafio!!

(In Nuvem de Poeira; Dário Pedroso, s.j.)


Texto retirado do folheto "Paz e Bem", Janeiro de 2010

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